sábado, 9 de outubro de 2010

Lupicínio Rodrigues, Bob Dylan e as pedras rolantes

upicínio Rodrigues. Gaúcho, boêmio e autor de uma série canções que o fizeram ser considerado o pai da dor-de-cotovelo. Foi mestre na arte de sentar-se no balcão do bar, cravar os cotovelos no mesmo, pedir um Whisky duplo, fazer bolinhas com o fundo do copo e, assim, chorar o amor que perdeu.

Teve três grandes paixões: mulheres, bares e futebol.

Robert Allen Zimmerman, mais conhecido como Bob Dylan. Norte-americano, músico e gênio. Conhecido, também, por suas músicas agressivas e personalidade fortíssima. Suas canções carregam uma mistura de protesto e fúria, causando polêmica ao longo dos anos.

Homem de frases como "a felicidade não está entre as minhas prioridades". Absolutamente avesso ao estrelato.

Agora, o que Bob Dylan tem a ver com Lupicínio Rodrigues? Algo.



Em 1990, ao lado de Bon Jovi, Marillion e Eurythmics, Bob Dylan era um dos shows mais esperados do Hollywood Rock. O gaúcho Eduardo Bueno (Peninha), então funcionário de um periódico do Rio Grande do Sul, foi até São Paulo com a difícil missão de entrevistar o músico. "A gente ficou, na medida de que se pode usar essa palavra para o Bob Dylan, amigo", diz Peninha.

Eles conviveram durante um tempo e Peninha fez turnês com a equipe de Dylan pela América Latina. Em 1991, já em Porto Alegre, mais precisamente no Hotel Plaza São Rafael, o escritor apresentou para Bob Dylan uma fita com canções de Lupicínio. Quando viu que a primeira música de chamava Revenge, Bob Dylan pediu uma tradução .

Peninha deu o tom e disse que, em 1951, Lupicínio havia escrito "Ela há de rolar como as pedras que rolam na estrada", exatamente o mesmo teor de Like a Rolling Stone do americano. Começam a surgir coincidências.

Bob Dylan admitiu que teve como inspiração para compor Like a Rolling Stones o blues Rolling Stones do Muddy Waters. E essa canção foi composta também em 1951, ano em que Lupicínio escrevia Vingança.

A diferença está no contexto das obras. Enquanto o blues é bem mais positivo, dizendo "pedras que rolam não criam limo", algo que remete ao "não fique parado, mova-se pra não se enferrujar", a do Lupicínio é exatamente o contrário, desejando uma maldição.

Da mesma forma, Like a Rolling Stones é furiosa. Dylan fala algo do tipo "como você se sente agora que você não tem casa, que você rola como uma pedra a beira do caminho". A diferença é que Vingança foi escrita em 1951, já Like a Rolling Stones em 1965.

Dylan, como não podia ser diferente, ficou interessadíssimo na obra de Lupicínio. E a música seguinte na fita de Peninha chamou muito sua atenção. Era o hino do Grêmio, composto por Lupicínio em 1953 durante comemoração do cinqüentenário do Imortal.

O hino on the road, em tom de marcha, deixou Dylan encantado. Nascia aí uma nova lenda: Bob Dylan teria sido visto num Grenal na Baixada, antigo estádio do Grêmio, vestido com a camisa tricolor. Mas essa é outra história para outro momento.



Esses registros históricos são fascinantes. Eles mesclam a veracidade dos fatos com incomparável poder criativo do imaginário popular. Verdade ou não, fica por sua conta. Mas eu não duvido que Lupicínio teve seu momento bluesman.

Nem que o Guaíba possa ser inspirador quanto o Mississipi.

Um comentário:

  1. estamos passando para agradecer a visita e também já estamos seguindo. Um abraço e volte sempre!

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