“Os Muppets”. Por mais curioso que possa parecer, o programa de fantoches com Caco e Miss Piggy foi o muso inspirador do mais novo álbum do Pato Fu. Lançado nesta semana, “Música de brinquedo”, como o nome já sugere, traz o grupo mineiro recriando canções clássicas do repertório nacional e internacional apenas com o uso de instrumentos infantis.
Um kazoo entrou no lugar de instrumentos de sopro, um brinquedo Genius simulou um saxofone e uma calculadora Casio reproduziu o som de um teclado. Fora um elefante de plástico, cujo ronronar entrou no lugar de uma parte orquestrada de “Live and let die”, de Paul e Linda McCartney
“O som dele é muito parecido com aquelas cordas indianas complexas”, ri o guitarrista John Ulhoa, produtor do CD. Gravado no estúdio que tem em sua casa, “Música de brinquedo” nasceu como extensão do fato de todos os “patos” terem virado pais.
“Começamos a dar esse tipo de presente aos nossos filhos. Só que eles não ficavam no quarto deles, mas no estúdio! Ficamos cada vez mais cativados: são instrumentos sem qualidade sonora e nem são bons de tocar, mas neles sobra personalidade”, explica John, que já tinha trabalhado com os chamados “barulhinhos infantis” na produção de trabalhos das cantoras Zélia Duncan e Érika Machado.
O projeto nasceu há um ano e meio, após o Pato Fu criar uma versão de “Primavera”, hino de Cassiano e famoso na voz de Tim Maia. A gravação foi documentada e exibida há vários amigos. Mas como Fernanda estava em turnê solo e os integrantes se dedicavam a projetos pessoais, somente em janeiro eles entraram em estúdio.
Dose de nerdice
Apesar de a banda afirmar ter composições inéditas, optou-se a pela escolha de 12 faixas de melodias marcantes, como “Todos estão surdos”, de Roberto Carlos, “Ska”, dos Paralamas, “Rock and roll lullaby” (BJ Thomas) e “Love me tender”, de Elvis Presley. Para manter o clima caseiro, e de bagunça, os filhos dos músicos fizeram os backing vocals – eles gritam e desafinam sem a menor preocupação.
“Colocar músicas novas não teria o mesmo efeito [no álbum], por isso a escolha por músicas muito potentes. As vozes das crianças ampliam o universo ‘pais e filhos’”, diz John.
A proposta lembra o projeto Pequeno Cidadão, de Arnaldo Antunes e Edgard Scandurra – também com seus respectivos filhos -, e a Adriana Partimpim, alcunha infantil de Adriana Calcanhoto. Para John, a semelhança dos três trabalhos é simples.
“É a nossa geração se manifestando. Por sermos pais, consumimos muita música infantil, mas é aquela coisa cor de rosa e infantilóide. Por isso queremos fazer a nossa versão”, explica ele, que não considera o trabalho como um disco voltado às crianças. “Acho que adultos vão relembrar de canções que gostavam e a criançada poderá ser introduzida à boa música pop que já produzida”.
Segundo a vocalista Fernanda Takai, o desafio em “Música de brinquedo” foi encontrar objetos que pudessem substituir os instrumentos musicais marcantes das faixas originais. Após várias pesquisas em sites e compras realizados em viagens no exterior, pode-se chegar aos escolhidos.
Aliás, os únicos instrumentos musicais que foram utilizados na gravação foram aqueles em suas versões infantis ou que sejam ligados a esse universo, como a flauta doce, o xilofone de latão, escaleta e aqueles minipianos barulhentos.
“O desafio era fazer o som com o que se tinha, e quebramos a cabeça. É preciso muita energia e certa dose de nerdice”, brinca Fernanda que, ao lado de John, faz questão de dizer que os sons não passarão por pós-produção no computador. “É na imperfeição que reside a graça”, justifica.
‘Monstrinhos’ por monstros
“Música de brinquedo” renderá uma nova turnê, que começa neste final de semana no Rio. Além das 12 canções do álbum, o Pato Fu também irá apresentar versões infantis para os seus maiores sucessos, como “Made in Japan” e “Sobre o tempo”.
Fernanda adianta que cada um dos músicos terá uma mesa repleta de brinquedos. Para o show, aliás, foi preciso chamar dois novos integrantes, que participaram da turnê do CD que ela fez com músicas de Nara Leão. “Essa é a primeira vez que não temos nada de eletrônico no palco, ou seja, era preciso de mais mãos”, brinca.
Como os filhos dos “patos” são pequenos e não poderão viajar com os pais, dois monstros da companhia de teatro de bonecos Giramundo entrarão em seus lugares. Uma troca “monstrinhos” por monstros, basicamente.
[g1]
Nenhum comentário:
Postar um comentário